Desenvolvimento Visual. O que esperar no 1º ano?
A visão de um bebé atravessa diferentes etapas fundamentais, sendo o seu desenvolvimento exponencial no primeiro ano de vida. A harmonia da relação estrutura-função é de crucial importância para a estruturação salutar do sistema visual, motivo pelo qual o Pediatra, o Médico de Família e o Oftalmologista Pediátrico cooperam e se complementam na avaliação do bebé nas visitas programadas de saúde infantil. Saber o que esperar a cada altura do crescimento pode ajudar os pais a detectar e antecipar eventuais necessidades específicas.
Nascimento: uma descoberta
Ao nascimento, o recém-nascido é muito sensível à luz. É possível percebê-lo pelo tamanho das pupilas (pequenas), limitando a quantidade de luz que entra nos olhos. Nesta altura a sua visão é muito baixa, com reacções muito rudimentares ao estímulo visual, traduzidas em movimentos lentos dos olhos e da cabeça na direcção de um estímulo. O recém-nascido pode assim ver alvos próximos a si com a visão periférica – que o ajuda a definir o contorno grosseiro de uma face por exemplo -, mas a sua visão central está ainda por desenvolver. A sensibilidade ao movimento é uma característica universal de todos os sistemas visuais, sendo por isso uma das primeiras funções a desenvolver-se; o que explica o facto do recém-nascido preferir cenários em movimento, sobretudo daqueles que lhes estão mais próximos (dada a ainda baixa acuidade visual).
Dois a quatro meses: focar e rastrear
Nos primeiros dois meses, os olhos dos bebés podem aparentar alguma incoordenação motora sobretudo no ritmo com que fazem as lateralizações ao perseguirem um estímulo que lhe desperte interesse. Na maioria dos casos, isso é normal e desvanece com o crescimento. No entanto, tal característica é distinta de um desvio constante do olho, que se designa por estrabismo. O verdadeiro estrabismo ou desalinhamento dos eixos visuais não é normal, sendo que raramente desvanece; ao contrário do pseudo-estrabismo – noção subjetiva de um desalinhamento, sem que verdadeiramente ele exista – que é muito comum.
Assim sendo, com cerca de dois meses de idade, os bebés geralmente conseguem seguir um objeto em movimento, à medida que a coordenação visual melhora. De facto, com cerca de três meses de idade, o seu bebé pode já ter coordenação ocular-braço suficiente para conseguir interceptar um objeto próximo em movimento. Para tal ser possível, os olhos devem trabalhar em conjunto para focar e rastrear objetos, no que se designa de binocularidade.
A visão cromática, ausente ou pobre no primeiro mês de vida, desenvolve-se pelo segundo mês com a discriminação primeiro do eixo vermelho-verde e mais tardiamente do azul (pelos 3 meses de idade), com uma melhoria global até ao final do primeiro ano. Assim, sendo gradativamente capaz de integrar diferentes características de uma objeto, como a cor, a orientação, o movimento, associadas a uma melhoria da visão central e da atenção, o bebé começa a comunicar com intencionalidade, a sociabilizar, a compreender e a interagir com o mundo que o rodeia.
Cinco a oito meses: alcance, reconhecimento e recordação
Por volta dos cinco meses de idade, a capacidade de ver a que distância um objeto está (chamada perceção de profundidade) está majorada; são portanto capazes de ver o mundo a três dimensões, e isso é evidente à medida que melhoram o alcance de objetos quer mais próximos quer mais distantes. Paralelamente são capazes de segmentar um cenário, discriminando o objecto da sua envolvência, associado a uma atenção mais selectiva, isto é um despertar de interesse reflexo ou intencional perante um estímulo novo.
Nesta fase, o bebé pode reconhecer os seus pais do outro lado da sala sorrindo-lhes; podem até recordar- se de um objeto, mesmo que apenas vejam parte dele. Geralmente começam a gatinhar por volta dos oito meses de idade, melhorando ainda mais a coordenação olho-mão.
Nove a doze meses: pegar, agarrar e em movimento
Com cerca de nove meses de idade, os bebés geralmente avaliam a distância muito bem. É a altura em que se começam a levantar. Pelos dez meses de idade, com uma acuidade visual, capacidade discriminativa e de profundidade melhoradas são capazes de agarrar algo entre o polegar e o indicador. A manipulação de objetos torna-se assim mais refinada. Aos doze meses, a maioria dos bebés gatinha e tenta andar.
Fontes: Academia Americana de Oftalmologia – https://www.aao.org/eye-health/tips-prevention-list